Amigo Pingo
Amigos e família são elos que sustentam uma sociedade. Confesso que, ao longo da vida, não tive muitos amigos — os poucos que tive, alguns já partiram, outros ainda vivem e me são profundamente especiais.
Família, para mim, é minha esposa. Estamos juntos há trinta anos, somando os dois e poucos anos de namoro e os vinte e sete anos de casamento. É com ela que compartilho minha vida, minhas dores e alegrias.
Mas hoje quero falar de um amigo muito especial que se foi há quase um ano, a completar no dia vinte deste mês. Não se trata de um ser humano, mas de um felino — um gato chamado Pingo.
A história é longa, mas tentarei resumi-la. Em julho de 2011, minha vizinha adotou um gatinho para a filha. No entanto, ele dormia ao relento, e todas as manhãs, ao sair para o trabalho, o encontrava me esperando no portão. Ele me seguia até o portão principal da rua. Eu o devolvia, mas no dia seguinte, lá estava ele novamente.
Um dia, cheguei mais cedo do trabalho e o encontrei tentando beber água suja de uma poça no quintal. Ajoelhei-me e disse:
— Meu, não toma essa água... está suja.
Ele pareceu entender. Me seguiu até minha casa. Não deixei que entrasse de imediato, mas ofereci uma tigela de água, que ele bebeu com muita sede. Depois, lhe dei um pouco de leite. Entrei, fechei a porta e fui tomar um café, depois me deitei no sofá... Cochilei por uma hora e meia. Quando me levantei e olhei pela janela, ele ainda estava lá, sentado ao lado da tigela.
Abri a porta. Ele entrou. Deitei no sofá, e ele veio, deitou sobre meu peito — e desde então, nunca mais se afastou. Onde eu estava, ele também estava.
Pingo foi meu melhor amigo. Nunca me pedia nada, nem miava. Eu falava com ele como se fala com um velho companheiro, e ele apenas me olhava. Quando eu estava escrevendo — poemas, romances, ou mesmo "Conflito de um Assassino - Parte 2", que era meu projeto à época —, ele se sentava no meu colo, as patinhas apoiadas na mesa, observando cada letra que eu digitava. Quando eu parava, ele me olhava, como quem perguntasse:
— Por que parou?
Ensinei-o a miar. Mas ele só fazia isso quando estava doente ou muito quieto. E, quando eu é que estava doente, ele se deitava sobre meu peito, me olhava, me cheirava, acariciava meu rosto com a patinha.
No ano passado, apareceu com um caroço no nariz. O diagnóstico foi devastador: câncer na face, inoperável. No dia 20 de julho, tive que tomar a decisão mais dolorosa da minha vida — deixá-lo partir, sacrificar meu amigo Pingo.
Foi como perder um pedaço de mim.
Antes, eu zombava daqueles que tratavam animais como membros da família. Hoje, compreendo. O amor transforma qualquer ser vivo em família. E, por isso, não quero ter outro gato ou qualquer outro animal. Não quero viver a dor de perder novamente um amor assim.
Em sua memória, compus uma canção. Porque o que ele foi para mim, ninguém jamais entenderá por completo — mas a canção talvez diga um pouco do que carrego no coração.

PINGO AMIGO ( com áudio)
Eu me lembro como ontem,
Era julho, tava frio,
Você, uma bola de pelos,
Trazia calor no vazio.
Eu não dei muita atenção,
Mas você veio insistir.
Aos poucos, virou amigo,
Companheiro até o fim.
Pingo, meu pequeno, meu amigo,
Um gatinho tão especial,
Nosso laço, tão eterno,
Vai além do bem e do mal.
Você foi mais que um amigo,
Foi família, foi parte do lar.
Mesmo longe, eu te sinto,
No meu peito a morar.
O tempo passou depressa,
E você cresceu também.
Cada salto, cada festa,
Trouxe luz pra quem não tem.
Mas a vida é tão efêmera,
E o destino é sempre assim.
Mesmo frágil, na doença,
Não deixou de ser pra mim...
Pingo, meu pequeno, meu amigo,
Um gatinho tão especial,
Nosso laço, tão eterno,
Vai além do bem e do mal.
Você foi mais que um amigo,
Foi família, foi parte do lar.
Mesmo longe, eu te sinto,
No meu peito a morar.
Te vejo nos meus sonhos,
Ouço seu miado ao vento.
Na memória, tão presente,
Você vive em cada momento.
O vazio que ficou
É o preço do amor maior.
Mas no mundo dos pequeninos,
Sei que nunca está só.
Pingo, meu pequeno amigo,
Um gatinho tão especial,
Nosso laço, tão eterno,
Vai além do bem e do mal.
Você foi mais que um amigo,
Foi família, foi parte do lar.
Mesmo longe, eu te sinto,
No meu peito a morar.