NO CREPUSCO da existência de Isabel, Sr. Plinio, desprovido de preces habituais, contemplava o iminente encontro com a morte. A criada, portadora de consolo, administrava cuidados à moribunda com compressas de água morna, enquanto Plinio, percebendo o odor da transição iminente, cogitou.
-Se o doutor não chegar logo, o melhor é chamar o padre para dar a extrema-unção.
Em meio à agonia, a criada insistia na fé.
- Tenha fé patrão, o doutor certamente irá chegar a tempo, e, a dana Isabel vai se recuperar, o senhor vai ver.
Isabel, envolta em gemidos e tremores, testemunhava a própria vitalidade desvanecer. Seus olhos, outrora vivos, tornaram-se meras gemas azuis, e sua respiração, embora regular, denotava um esforço sob a sensação de raridade do ambiente. Plinio, ao libertar sua mão, buscou alívio ao abrir a janela, permitindo que a brisa fresca adentrasse a alcova. Nesse momento, a moribunda, ávida por sentir o ar na face, estendeu a mão.
- Meu bem, me leve a te a janela para que eu sinta o ar em minha face.
Com lágrimas nos olhos, Plinio a conduziu até a janela, onde ela experimentou a carícia da brisa. Olhando nos olhos do esposo, agradeceu.
- Obrigada meu bem...
Ela tossiu com sofreguidão e, sorrindo, encerrou sua respiração.
-Nãoooooo! - Plinio gritou com toda sua força.
Seu grito angustiado ante ao último suspiro de sua amada ressoou, ecoando nas fazendas próximas, enquanto os ventos gelados se uniam ao lamento, derrubando o enlutado ao chão com sua esposa nos braços.
O clamor da criada por socorro reverberou, mas a ajuda chegou tarde. Com a ajuda dos criados, o corpo de Isabel retornou à cama, e Plinio, amparado por criados, recolheu-se à poltrona, onde um serviçal lhe ofereceu whisky para acalmar os resquícios da tormenta emocional.
Continua...