SETE DIAS DEPOIS. Tudo havia voltado ao normal no escritório. Por incriável que parecesse, nada havia saído nos jornais, exceto uma pequena nota num site de notícias, mas sua firma, se quer foi citada por nome. A nota dizia apenas que uma das empresas situadas no edifício Story da alameda santos, fora visitada por agentes federais. Entre mortos e feridos, parecia que nada havia acontecido.
Enfim, era sexta-feira outra vez.
Todos ficam loucos as sextas feiras, não veem a hora de chegar as cinco para saírem do trabalho e irem para os bares, motéis, casa de praia ou sítio para começarem o fim de semana. Beber com os amigos, ouvir música alta. As possibilidades são inúmeras.
Takeshi saiu naquela noite, sem pretensão de encontrar alguém, sua mãe estava com suas Irmãs na fazenda em Goiás, sem previsão de retorno, pois ele as havia avisado que quando fosse seguro, e ele tivesse certeza de que os federais não iriam invadir suas vidas a qualquer momento, ele avisaria para que elas voltassem.
Enfim, na quela noite, tudo que ele queria era tomar umas e outras e voltar para sua cobertura, andar pelado pelos cômodos da casa, sem temer que nada, nem ninguém o perturbasse.
Mas o destino tinha algo especial em reserva para ele.
Ele estava só, havia dispensado o motorista, estava por sua conta e risco.
Ele chegou ao bar de costume as vinte horas. O ambiente era agradável, tinha música ao vivo, bebidas de boa qualidade, havia uma pista para as pessoas dançarem, e, as vezes se conseguia conhecer pessoas interessantes.
Ele se sentou ao balcão.
O bartender, um sujeito musculoso, de cabelo a lá escovinha, barba grande, porém, bem aparada, usava camiseta regata, com cara quadrada, como as personagens de animes de luta livre.
- O que vai ser amigo – disse ele com voz de locutor. Takeshi olhou para as garrafas dispostas a prateleira no bar.
- Uma dose de chivas.
O bartender o olhou com cara de desconfiança para ele, mas serviu o whisky.
Takeshi tomou um pequeno gole, pousou o copo sobre o para de copo, pescou o celular do bouço da jaqueta e começou a verificar sua agenda. Enquanto ia de um contato a outro, uma voz doce, feminina e felina disse.
- Dry Martini, por favor.
Takeshi sentiu um impulso de virar para ver a dona daquela voz, mas resistiu ao desejo. Mas ele sentiu que estava sendo observado.
Definitivamente ele estava sendo observado.
- Andréa – disse ela estendendo a mão para ele.
Takeshi se virou, quase caiu do banco. Andréa era linda. Morena de olhos verdes, um rosto belamente maquiado, numa leveza que quase parecia natural. Os lábios carnudos, pareciam estarem implorando para serem tocados. Ela permanecia com a mão estendida. Ao perceber que ele estava congelado, ela mordeu os lábios, de um jeito provocante e continuou.
- Creio que não vou aguentar ficar com a mão estendida por muito tempo.
- Me desculpe, Takeshi... quer dizer me chamo Takeshi.
- Prazer Takeshi. Você está esperando alguém?
- Não, estou só tomando um drinque para relaxar.
- Perfeito, posso lhe fazer companhia?
- Sim, claro.
Começaram a conversar, descontraidamente.
A banda estava tocando um clássico “ One Moment In Time” interpretado por Dana Winner. Andréa disse.
- Eu amo essa canção, dance-a comigo.
- Não eu sou péssimo dançarino.
- Não tem problema, eu te levo.
Ela tinha uma beleza perfeita, uma voz angelical, não tinha como resistir.
Eles foram para próximo ao palco e começamos a dançar. Ela enlaçou seu pescoço com seus braços e pousou a cabeça sobre seu ombro. Além de linda ela cheirava a lavanda e flor de laranjeira. Seus corpos estavam tão juntos que Takeshi conseguia sentir o coração dela pulsar junto ao seu peito. Quando a vocalista disse o último verso “ I will be free”. Andréa simplesmente o beijou. Foi um beijo doce, intenso, mas com notas de amor e desejo.
Takeshi foi pego de surpresa.
Ele retribuía o beijo, como se o desejasse a muito. Quando seus lábios se afastaram. Ele viu que lagrimas escorriam dos olhos de Andréa. Ele as enxugou com o polegar delicadamente.
- Vamos sair daqui – disse ela.
Ele aquiesceu, com um gesto de cabeça. Eles saíram a caminhar pela rua em silêncio. Caminharam sem destino. Ao chegarem a uma praça, a uns quatro quarteirões do bar, ela olhou para ele.
- Podemos nos sentar um pouco?
- Claro.
Eles se sentaram. Ela encostou a cabeça sobre seu ombro e respirou fundo. Uma mecha de seus cabelos, cobriam sua face. Takeshi a fastou com o indicador. Não podia negar ao olhar a beleza daquele rosto. Na verdade, aquela era uma situação atípica. Nunca havia se sentido tão bem ao lado de uma pessoa estranha. Era como se ele a conhecesse a muito tempo. Sentia em seu ser algo estranho, como se uma corrente elétrica percorresse todo o seu corpo. Ele queria sentir o gosto dos seus lábios mais uma vez.
Foi o que ele fez.
Acariciou o rosto dela. Quando seu indicador chegou em seu queixo, ela olhou em seus olhos, e suas bocas se uniram em um beijo apaixonado. Suas mãos percorria o corpo um do outro, como alguém que procura algo desesperadamente. Não se conteve, quando deu por si, sua mão já estava por dentro da blusa de Andréa, acariciando seus seios. Ela não o impediu, apenas segurou a blusa para não revelar mais do que já estava visível. Depois de minutos que estavam se beijando, seus corpos estavam em chamas. Ela afastou seus lábios dos dele e disse em seu ouvido.
- Em sua casa ou na minha.
Ele ponderou rápido. Em bora sua mãe e suas irmãs estivessem na fazenda, ele nunca havia levado mulher para casa, e não seria aquela a primeira vez. Mas antes que ele respondesse ela disse eu moro a duas quadras daqui, pode ser na minha?
- Se estiver tudo bem para você, pode ser.
Saíram abraços para a casa dela.
Ela morava em uma quitinete, da Rua Augusta. Passaram pela portaria, entraram no elevador, a porta fechou, eles se atracaram novamente, em uma ânsia louco de sentir um ao outro.