SATO CHEGOU AO ESCRITORIO. Tudo parecia normal, a secretária havia saído para almoçar. O estagiário estava ao telefone, o motoboy estava esparramado no sofá da recepção, mexendo no celular, como se estivesse no sofá de sua casa.
Sato foi para sua mesa, tirou o blazer, o pôs nas costas da cadeira, colocou a pasta sobre o carpete ao lado da mesa e sentou-se à mesa. Apoiou os cotovelos sobra a mesa e envolveu o rosto com as mãos. ficou ali por alguns segundos, pensado no que iria fazer para resolver seu problema de caixa. Enquanto ele tentava encontrar em sua mente uma solução para seus problemas, seu celular tocou, ele olhou o visor, era seu tio Hiroshi. Fazia tempo que seu tio não entrava em contato. Ele atendeu.
- Boa tarde tio, como o senhor está? E a tia Emi?
- Estamos todos bem.
Hiroshi não disse mais nada. Sato ficou esperando, como o tio nada dizia, ele perguntou.
- Tio, o senhor ainda está aí? alo.
- Hai! Eu preciso de um favor seu, você pode me ajudar?
- Do que o senhor precisa?
- Seria bom falarmos pessoalmente, você pode vir jantar aqui em casa hoje?
-Sim.
- Doumou arigato, sua tia vai ficar feliz e vê-los.
- Ok, até a noite tio.
Sato não desligou de imediato, pois, estava intrigado com a ligação do seu tio, afinal, o que ele tinha de tão importante para dizer que tinha que ser dito pessoalmente? Ele ficou olhando para a tela do celular, até que seu tio interrompeu a ligação. Meio que no automático, Sato passou um WhatsApp para sua esposa.
“Querida, jantar na casa do tio Hiroshi, hoje as 20h,”
A SECRETARIA VOLTOU DO ALMOÇO. Ela deu algumas encomendas e correspondências para o motoboy entregar, pegou algumas páginas sobre sua mesa, a agenda e foi para a sala de Sato.
- Boa tarde Dr. Sato, estes são documentos que precisam ser assinados. Também tem uma reunião as 14hs com o grupo RCL e, as 16hs entrevistas dos corretores.
- Ok, obrigado. Você pode me providenciar um lanche, pois eu ainda não almocei e, pela agenda de hoje, não terei tempo.
- Ah! Dr. Sato, estava me esquecendo, a obra do boqueirão foi embargada, um dos operários caiu do 8º andar.
- Como ele está?
- Em coma, o Dr. Teodorico já foi para lá, para acompanha os peritos, para identificar qual foi a causa do acidente.
- Ok, vou ligar para ele, para saber como está indo as coisas.
- Eu vou providenciar o seu lanche.
Enquanto Roxana saia da sala, Sato pegou o celular e ligou para o advogado da empresa. Ele atendeu no terceiro toque.
- Boa tarde Dr. Sato. Eu já estive na delegacia. O delegado não pode me adiantar muita coisa, mas tudo indica que foi uma tentativa de suicídio do operário.
- Certo, mas e quanto aos itens de segurança, estavam todos conforme exigem as normas?
- Sim senhor, conforme pude averiguar, o rapaz não estava usando sinto de segurança, e nem estava escalado para aquele andar, na verdade, ele estava escalado para revestimento no segundo andar.
- Entendi. Independente do ocorrido, motivo, causa ou razão, garanta que ele e seus familiares tenha toda a assistência necessária, e que as atividades quanto a obra seja retomada o quanto antes, pois, nós já estamos atrasados com projeto da zona leste, mais outra obra em atraso, eu vou a falência.
- Pode deixar Dr. Sato, farei o meu melhor.
- Hai.
As horas voaram. Depois a reunião extenuante com o Grupo RCL, que por pouco, fora um desastre. Sato foi para a sala de entrevistas.
Havia apenas três vagas para corretores, mas ele ficou surpreso ao entrar a sala de espera e se deparar com um número considerado de pessoas, havia vinte candidatos ao todo. Ele olhou para todos, em geral. Dentre os candidatos havia três afros descendentes, e dois Nissei.
Fazia anos que Sato não entrevistava um candidato a emprego. Sempre contratava uma empresa para a seleção, e está lhe enviava candidatos no perfil que ele precisava, porém, dado ao problema de caixa da empresa, ele não tinha opção. Cumprimentou todos no geral, com uma sonora boa tarde. Foi para a mesa que ficava ao norte da sala. Pegou as fichas dos candidatos e chamou o primeiro.
Os primeiros três eram totalmente inadequados para o cargo, não tinham nenhuma formação na área. A quarta candidata era ideal. Tinha vinte cinco anos, era nissei, falava três idiomas, inclusive o japonês fluente, tinha curso técnico em transações imobiliárias, três anos de experiência no ramo. Sato ficou impressionado com as qualificações. Por Último Sato lhe perguntou.
- Porque você quer trabalhar na S.C.I.
Akemi, ponderou por um momento, fez cara de quem não compreendera a pergunta. Por fim disse.
- “Nós aprendemos pouco com as vitorias e muito com as derrotas”. No meu último em prego, sempre quis muito e não consegui nada, agora quero recomeçar. E a experiência que adquiri, quero trazer para a Sato Construção e Impedimentos imobiliários, o pouco que aprendi e absolver o tudo que aqui posso aprender.
- Hai – disse Sato, com certa empatia pela moça.
Uma hora e meia depois, de entrevista, santo já tinha os três novos entregastes da empresa. Uma nissei, um afro descente e uma loura de apenas dezenove anos, ela se tornaria a mais nova colaboradora. O que chamará a atenção de Sato nessa jovem foi que embora de poca idade, ela tinha um currículo impecável para a idade dela, além de uma excelente carta de recomendação. Já estava no segundo ano do cursando engenharia civil.
Tendo concluído a agenda do dia, Sato voltou para sua sala, fechou a porta, tomou uma chuveirada, trocou a roupa formal por uma calça cáqui e camisa polo, para ir ao jantar com seu tio. Ele não sabia o que seu tio queria conversar com ele, mas estava curioso, pois, ele não era muito de conviver socialmente com a família, quando convidava um familiar a sua casa, boa coisa não era, sempre podia esperar puxões de orelha.