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Claudio passou pelo portão de casa as 7h30. Ao abrir a porta da sala ele já sentiu o cheiro do café, perfumando toda a casa. Ele leva um pacote de pães fresquinho e as broas de fubá com erva doce que sua mãe tanto gostava. Dona Hérnia estava terminando de passar o café quando ele pois os pacotes sobre a mesa.
- Sua benção mãe, - disse ele puxando a cadeira para se sentar.
- Deus que te abençoa. Isso são horas de chegar em casa? – emendou ela.
Claudio nada disse, apenas foi pegando um pão do pacote e começou a tirar a casca e as levar a boca.
Hérnia pôs o bule com café sobre a mesa e serviu a xicara de Claudio até a metade.
- Vai querer leite?
- Não mãe, obrigado.
Dona Hérnia se sentou à mesa. Se serviu de café e leite. Pegou uma broa e foi quebrando pequenos pedaços e o levando a boca. Alternava, um pedaço da broa e um gole do café com leite. Tomaram o café da manha sem nada dizer um ao outro.
Claudio terminou de tomar o café, levou sua xicara para a pia, ao sair da cozinha ele disse;
- Hoje vêm uma amiga almoçar conosco. Ela tem duas filhas pequenas.
Hérnia não disse nada em arguição.
Claudio foi para o quarto tirou a roupa, ficando apenas de cueca e se deitou, mau caiu na cama e apagou.
Meia hora depois Hérnia foi até o quarto do filho. A porta estava entreaberta, ela a empurrou devagar, pegou o lençol e cobriu o filho. Pegou sua roupa que estava no chão próximo ao criado mudo. Ela levou a camisa ao nariz, sentiu um perfume diferente ao costumeiro do filho. Pegou tudo e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si, foi direto para a lavanderia. Pôs a roupa no tanque, deixou de molho e foi para cozinha escolhe o que iria fazer para o almoço.
Claudio dormiu até as 11h, num sono só. Acordou, olhou o relógio sobre o criado mudo. Era 11h05. Ele se levantou e foi para o banheiro. Tomou banho, se barbeou, vestiu uma bermuda caqui, camiseta polo, calçou sapato mocassim marrom, sinto combinando e foi para a garagem.
Quando ele estava abrindo o portão, sua mãe apareceu na janela da sala.
- Você vai sair? Vê se não demora, daqui a pouco o almoço vai estar pronto.
- Está bem mãe, só vou buscar a amiga que te falei, já volto.
Ele foi para trás do volante de seu Ford Del Rei. O carro estava novinho, fazia apenas dois meses que Claudio o havia comprado. Era seu primeiro carro zero. Tinha tanto cuidado com o automoveu que ainda não havia tido coragem de tirar os plásticos do banco de trás, afinal, ele e sua mãe, foram as únicas pessoas que haviam andando no carro, ficava a maior parte do tempo na garagem, não o usava nem parta ir para o trabalho, só o tirava da garagem aos domingos para levar a mãe a igreja.
Desde que comprara o carro, as moças da rua ficavam sempre nas janelas para o cumprimentar quando ele passava, algumas mais afoitas, lhe perguntava quando ele as levaria para dar um passeio em seu carro novo. Ele fingia que não ouvia.
Quando Claudio parou o carro em frente a casa e saltou para fechar o portão. Marlene sua vizinha da frente logo gritou.
- Vai chover hoje hein Claudio, você saído de carro no sábado é novidade.
- Bom dia para você também Marlene. Será que você não tem que ajudar a sua mãe na cozinha, ao em vez de ficar cuidado da vida dos outros?
- Tenho sim, mas eu prefiro ficar olhando para você que é um colírio para os meus olhos.
Ao ouvir essa gracinha de Marlene, uma voz grave, masculina vinda de dentro gritou,
- Marlene, vai já para seu quarto.
Era o velho Isaias, pai de Marlene, um alemão já na casa dos seus 68 anos. O velho estava acabado, mas não era pela idade, mas sim por seus problemas de saúde. Trabalhou a vida toda em fundição, as vezes 16, 18horas por dia. O que o fez se aposentar aos 55, com o pulmão todo ferrado. Tinha um pigarro que não o largava nem na hora da comida, para ajudar o homem não largava o cigarrinho de palha.
Claudio entrou no carro e olhou de soslaio para a janela. Marlene permanecia lá a olhá-lo, apesar do pito que seu pai lhe passara. Ela ficou olhando até o carro sumir no fim da rua.
Continua...