FelipeFFalcão

Contos versos e poesias

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O detetive Alex Falcão estava em seu apartamento observando a névoa que pairava sobre cidade naquele dia meio nublado. Ele acabara de chegar do correio onde fora buscar a correspondência em sua caixa postal.
 
Pela janela do seu quarto, ele continuava absorto olhando o movimento da rua lá embaixo quando alguém tocou a campainha e a empregada foi atender. O investigador ouviu uma voz forte e, pelo tom, ele julgou que a pessoa teria um 1,90m de altura e uns 120 kg, mas logo o silêncio voltou a reinar e ele imaginou que quem quer que fosse já tinha ido embora.
 
- Senhor! - exclamou a empregada parada no vão entre a sala de jantar e a sala de estar.
 
- Sim, - respondeu ele sem olhar para trás.
 
- O zelador quer falar com o senhor.
 
Alex deixou a janela e foi para sala de estar. Ali, ele pode constatar que a imagem que havia feito mentalmente era real; o homem era tão robusto que usava o blazer do uniforme aberto e, na região do umbigo, os botões da camisa pareciam que iam arrebentar. Nervosamente, ele manuseava vários envelopes que trazia nas mãos. Alex disse:
 
- Bom dia, você queria falar comigo?
 
O homem, meio que gaguejando e visivelmente inseguro, respondeu:
 
- Bom... Bom dia, Sr. Alex. O senhor não me conhece ainda, eu sou o novo zelador do prédio e vim lhe trazer uma correspondência que recebi agorinha. Ela foi trazida na portaria por um boy dizendo ser urgente e ele queria subir aqui, então eu achei melhor entregá-la o quanto antes.
 
- Obrigado, senhor...
 
- Meu nome é Maximiliano.
 
- Ok, senhor Maximiliano, não precisava se incomodar pois mais tarde eu a teria retirado na portaria.
 
- Desculpe-me, mas é que o rapaz disse ser urgente.
 
Alex pegou o envelope e agradeceu o zelador, fechou a porta e foi para o escritório. Verificou o envelope cuidadosamente para certificar quem o havia enviado e, por não reconhecer o remetente, colocou de lado indo verificar a correspondência que ele mesmo havia trazido de sua caixa postal. Depois, pegou o envelope para ver do que se tratava e notando que era um tanto volumoso, sacudiu-o devagar conferindo se havia alguma coisa solta em seu interior. Tudo parecia normal e decidiu abri-lo, afinal. Encontrou ali uma carta e deu-lhe atenção imediata. Ela dizia:
 
“Caro senhor Alex Falcão, o senhor não me conhece, mas quem o indicou foi o Dr. Hermes. Ele disse que o senhor é um profissional eficiente e muito discreto, por isso estou contratando os seus serviços.
 
Não sei se já observou, mas junto com esta carta estou enviando dois mil dólares adiantados; não sei quanto custará o seu trabalho, mas preciso que o senhor seja minucioso na investigação, pois do resultado dela depende o meu futuro. No envelope encontrará também uma foto da pessoa a ser investigada; o endereço do local onde ele trabalha e, também dos lugares que costuma frequentar. Tudo o que o senhor precisar deverá ser solicitado através da caixa postal que está citada no envelope.”
 
Alex conferiu os itens mencionados na carta se estavam todos ali. Sim, estava tudo ali, os dois mil dólares, os endereços de trabalho e todos os locais que a pessoa costumava frequentar. Mas porque o contratante mandara aquelas instruções para sua casa? Será que se tratava de alguém que ele já conhecia... quem sabe um amigo da época da academia militar? Fosse quem fosse, deveria ter mandado as informações para sua caixa postal como todo mundo fazia.
 
O investigador ficou realmente preocupado. Sabia-se que no ramo da investigação, sigilo era a alma do negócio, mas mandar uma correspondência diretamente para a sua casa já era demais, – e como ficaria a sua vida pessoal se todos fizessem aquilo? Pois assim como seus clientes lhe pediam sigilo, ele também queria manter estas coisas bem separadas - sua vida pessoal e os seus negócios.
 
O detetive decidiu conferir tudo novamente para ver se encontrava mais alguma pista já que, afinal de contas, ele tinha que saber para quem iria trabalhar e, ao chacoalhar bem o envelope, um cartão caiu sobre a mesa.  Ele o pegou e leu o que estava escrito com letras grandes:
 
ADVERTISING AGENCY AWARD
Director commercial: David Nakao
Av: Paulista, 540 13º
 
Falcão repetiu o nome do diretor em voz alta para si mesmo.
 
- David Nakao...Nakao...este nome não me é estranho.
 
Aproveitando que já estava próximo do seu computador, ele decidiu fazer uma pesquisa no Google e digitou no campo indicado o nome do diretor comercial. Não demorou muito e logo apareceu uma lista de nomes parecidos, indicando que seria difícil pesquisar por pessoa física e diante do impasse, ele decidiu pesquisar pelo nome da empresa.  Escolheu o nome mais parecido, clicou sobre o endereço virtual e em questão de segundos o site foi exibido na tela do microcomputador. Falcão conferiu o endereço com o aquele que estava no cartão de visita e ambos eram iguais. Ele anotou o número telefônico e, em seguida, ligou para a agência de publicidade. No segundo toque, uma voz feminina atendeu.
 
- Advertising agency award, Sheila, bom dia.
 
- Bom dia, Sheila, o Dr. Nakao, por favor.
 
- Perdão, o Dr. Nakao não está no momento, ele foi a um velório. O senhor quer deixar recado?
 
- Não, obrigado.
 
Falcão desligou e enquanto organizava todas as informações que havia obtido no site, a empregada bateu à porta do escritório.
 
- Entre – disse o investigador.
 
- Sr. Alex, o almoço está pronto, posso servir?
 
- Dê-me apenas uns vinte minutos que eu já estou acabando aqui.
 
- Sim, senhor.
 
Falcão não perdeu tempo. Depois que organizou todas as informações que lhe foram enviadas, ele as ajuntou com as obtidas na Internet e colocou tudo em sua maleta de trabalho onde já estavam: uma câmera fotográfica, a câmera filmadora especial para filmagens noturnas, binóculos e a pistola 9mm com silenciador que ele levava sempre consigo em suas missões.
 
Depois disto, ele foi para o quarto, banhou-se, vestiu um terno escuro, a camisa branca e uma bonita gravata listrada. Levando a maleta para sala de estar, ele avisou a empregada que já poderia servir o almoço. Marluci ao observar que o investigador estava vestido a caráter, perguntou:
 
- Vai trabalhar Sr. Alex?
 
- Sim.
 
- Mais, o senhor não está em férias?
 
- Sim, Marluci, mas surgiu uma emergência e vou ter que atendê-la.
 
- Que pena!
 
- Não se preocupe comigo, pois, pelo que me parece, este trabalho vai me tomar apenas algum tempo. Tire uns dois dias de descanso. Não vou precisar de seus serviços.
 
Após terminar de almoçar, Alex colocou a maleta no porta-malas de seu Honda preto, colocou o cinto de segurança, deu a partida no carro e partiu para sua nova aventura profissional. O trânsito estava lento, a névoa já havia se dissipado e o forte sol parecia elevar muito a temperatura naquele horário.
 
Alex já estava na casa dos 35 anos, não fumava e não gostava mais de abusar de bebidas alcoólicas, exceto uma taça de um bom vinho, vez por outra. Gostava de praticar esportes e o seu preferido era a musculação, mas no que dizia respeito aos relacionamentos, ele não se saia muito bem e estava pensando exatamente nisso enquanto dirigia. Ele não conseguia confiar em nenhuma mulher justamente por ser um investigador e sempre encontrar provas de que como as mulheres aprontam muito quando querem. Via coisas inacreditáveis a cada novo trabalho e, embora isso acontecesse numa minoria dos casos, já era o suficiente para ele desconfiar delas.  Em sua opinião, amor verdadeiro, se é que existia, deveria ser muito mais do que aquelas trapaças e traições que era obrigado sempre a testemunhar e registrar.


 
 
Felipe Felix
Enviado por Felipe Felix em 13/05/2019
Alterado em 18/05/2019
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