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Com o passar do tempo, Fernandes e Marilyn pareciam estar mais juntos do que um casal normal. Weruska continuava tão fechada em seu mundo, com seus cuidados exagerados e melindres de mãe de primeira viagem que nem percebia que o marido estava navegando por outros mares. É verdade que Fernandes não permitirá que sua aventura extraconjugal interferisse na vida familiar. Continuará dando atenção a sua mulher e nunca passara a noite fora de casa. Caso ele fosse chegar mais tarde do que o habitual, sempre avisava antes.
Assim foi que chegou o dia do nascimento de seu filho sem que ele soubesse, pois enquanto Weruska sofria com constantes contrações já a caminho do hospital, Fernandes estava nos braços de Marilyn no flat recém-adquirido por ela em bairro próximo, exatamente com a finalidade de facilitar os constantes encontros entre eles. Depois dos agradáveis momentos de prazer, Fernandes deixou Marylin dormindo, como quase sempre fazia e foi para sua casa a fim de não levantar suspeitas.
Em casa, avisado pela governanta que a esposa fora levada para a maternidade, Fernandes rapidamente se encaminha para lá. Enquanto Weruska se desdobrava na sala de parto para suportar as dores das contrações que ficavam mais e mais frequentes, ele só podia observar a agonia da esposa através de um vidro.
No seu íntimo, ele também estava sofrendo uma dor terrível. Seu acabrunhamento não se dava pelo fato de não estar na sala segurando a mão de sua esposa ou ter estado ao lado dela quando fora trazida ao hospital como deveria ser seu papel de companheiro e futuro pai; mas por ter, na audiência do tribunal, defendido um calhorda que ele sabia ser culpado e por todo o empenho que fizera para provar sua falsa inocência - o que conseguira com êxito. Tentou consolar-se com a desculpa de que ele, afinal, estava apenas desempenhando bem o seu papel de advogado de defesa. O fato de ter ido encontrar-se com Marilyn após ter saído do tribunal só aumentava sua sensação de calhorda. Deveria ter ido diretamente para casa de modo a poder acompanhar a esposa ao hospital no momento mais difícil da vida dela e também proteger o filho que ela carregava. Enquanto estava absorto nestes pensamentos, a enfermeira o chamou.
Dr. Fernandes Godoy! – gritou a enfermeira abrindo a porta e percorrendo o recinto avidamente com seus olhos míopes.
- Sou eu – disse Fernandes, levantando-se.
- Parabéns, doutor! Seu filho nasceu e é um lindo garoto! Gostaria de vê-lo antes de o levarmos para o berçário?
Vestido e calçado com todos os itens preventivos exigidos pelas normas hospitalares, ele entrou na sala de parto. Weruska estava visivelmente exausta e com a face ainda molhada de suor pelo esforço feito. Entanto, ao ver o marido, ela esboçou um sorriso tão lindo que fez Fernandes voltar no tempo e voar em pensamento até o dia em que a conhecera. Ele se aproximou da mesa e a beijou ligeiramente na testa.
- Como... como você está, querida? – perguntou ele, desconfortável com o forte odor e a visão dos panos ensanguentados que estavam sendo removidos do ambiente.
- Você ainda me pergunta se está tudo bem? – disse ela, alteando levemente a voz – nunca mais quero ter filhos num parto normal, dói demais, pensei que eu não fosse conseguir.
- Que é isto agora, Weruska, você foi ótima! – disse a obstetra, trazendo o recém-nascido para os pais – e olhe aqui a recompensa: um bebê lindo!
Enquanto a médica colocava o filho nos braços de Weruska, uma lágrima solitária rolou do olho de Fernandes pairando sobre seus lábios.
- Não é lindo o nosso bebê, amor? – disse Weruska com os olhos cheios de lágrimas.
- Lindo mesmo, querida! – disse Fernandes enxugando as lágrimas da esposa com as costas dos dedos.
- Já escolheram o nome dele? – perguntou a obstetra.
Weruska olhou para Fernandes com um olhar condescendente e disse:
- Junior... Fernandes Pinheiro de Godoy Junior.
Fernandes ficou agradavelmente surpreso, pois haviam combinado que se fosse menina seria Juliana em homenagem à sua sogra; se menino, Gerhard, em homenagem ao avô de Weruska. Contente, ele inclinou-se e a beijou nos lábios ternamente.
- Obrigado querida. Gostei demais da surpresa.
- Agora vocês vão nos dar licença, - disse a médica – pois a enfermeira levará o nosso Junior para o berçário e a mamãe ainda vai ter que ficar em observação por quarenta minutos, mas depois ela poderá ir para o quarto. Enquanto isso, o senhor pode dar uma volta, tomar um cafezinho e voltar depois.
Fernandes acariciou a testa de Weruska e dando outro beijo na testa dela, disse:
- Querida, então vou aproveitar este tempinho e dar um pulinho no escritório. Voltarei para te ver depois.
- Está bem, amor – disse ela, umedecendo seus lábios ressecados pelo esforço e pelo cansaço.