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O dia amanhecera frio, com aspecto que iria chover, entanto, no transcurso da manhã, o sol foi se firmando, aquecendo e dissipando todas as nuvens. Devido à reunião extraordinária da Godoy & Associados, Fernandes não se encontrara com Marilyn. Mas ficaram de almoçar juntos numa casa de massas da moda.
Estacionado em frente ao restaurante, ele conferia pela segunda vez seu relógio, presente de Weruska. Sempre pontual, ele estava irritado, pois já passava das 12h00 e Marilyn ainda não havia chegado. Impaciente, já pensava na possibilidade de ela não vir por puro revanchismo devido ao fato de ele não ter podido encontrá-la na noite anterior. Chateado, decide-se por entrar no restaurante e ir bebendo alguma coisa para suportar melhor a espera, mas cruzando a entrada, alguém tapou-lhe os olhos. Fora novamente surpreendido pela irreverência dela, pois, pela maciez daquelas mãos, pelo cheiro marcante do perfume, soube que era Marilyn. Tentando livrar o rosto e sair daquela situação meio ridícula, ele ainda acabou recebendo um rápido beijo na boca. Desconcertado, uma vez que estavam em público, ele a encaminhou rapidamente à mesa reservada.
Ainda que se divertisse com as brincadeiras de Marilyn, Fernandes também se constrangia bastante, pois sempre fora muito reservado no que tangia à sua vida pessoal. Ele tinha medo de ser visto assim e de cair em descrédito junto aos seus seletos clientes. Sendo o seu oposto, ele até gostava daquele jeito moleque dela, pois quando estavam juntos sentia-se mais vivo, mais desejado. Contudo, tinha também algumas reservas quanto aos modos liberais dela que, embora tivesse apenas 25 anos, era casada com um publicitário de renome. Entretanto, ela agia como se fosse uma pessoa livre para viver a vida e não se privava sequer de demonstrar sua afeição em público, correndo assim o risco de promover um enorme escândalo nas colunas sociais.
Enquanto o garçom providenciava seus pedidos já feitos, Fernandes tirou um embrulho de presente de sua pasta e o estendeu à Marilyn.
- Presente para mim? – disse Marilyn, expressando felicidade – posso abrir já?
- Claro que pode! Mas não vá se decepcionar, pois é só uma coisinha sem muita importância.
Marilyn abriu o pacote com todo cuidado, como se fosse algo frágil. Tendo rompido todas as fitas que envolvia o invólucro, ela achou um belo livro de poesias.
- Ah! Que lindo! Como você descobriu que eu adoro poesia?
- Eu tenho os meus contatos – disse Fernandes, esboçando um sorriso maroto.
Tirando o laço que adornava o livro, Marilyn contemplou a capa do livro.
- Palavras ao Vento, de Jorge E Silva... hummm, bonita capa... ainda não conheço este poeta... ele é brasileiro?
- Sim, é um amigo meu. Este é o primeiro livro dele. O lançamento foi na Bienal ontem à noite e esse foi um dos motivos de eu não ter ido encontrar com você.
Enquanto Fernandes falava, Marilyn folheava seu novo livro. De súbito, ela parou em uma página e começou a ler.
Fórmula do amor
Nosso amor é abissal,
vai muito além da cama,
lençóis e cobertores.
Temos, em nossos corpos,
a chama da paixão,
a perfeita fórmula do amor.
Quando você me olha,
o brilho em seus olhos
revela os seus desejos,
não importa se está triste ou feliz.
Ah! Como é bom estar com você,
dividir os dias, as horas, minutos e segundos.
Não há nada neste mundo que se compare,
ao que existe entre nós.
Com você eu me sinto bem,
um ser querido, amado, desejado.
Você é meu elo com a felicidade,
meu motivo de existir.
Você me dá razão para viver:
Não sei, acho que estou amando você.
Ao terminar a leitura, ela suspirou fundo e com um olhar melancólico, disse:
- Que poema lindo! Gostaria de haver escrito algo assim, pois é exatamente como me sinto neste momento.
Fernandes olhava-a com admiração. Além de muito bela e irreverente, ela era sensível e, por vezes, indefesa. Porém, na hora do amor, ela era pura sedução – uma fêmea que se entregava de corpo e alma. Enquanto ele viajava naquela sedutora lembrança, o garçom chegou com os pratos e eles passaram a apreciar a refeição.